segunda-feira, outubro 29

Ela estava...


Cansada de repetir as mesmas falas, de dizer mais uma vez o que te chateava, de insistir em detalhes que só ela enxergava. Cansada de querer que o outro a conhecesse assim como ela o conhecia. Talvez ela quisesse, quisesse muito, mas não lhe era devido. Cobranças, queixas... Eram em vão. Ela era do tipo da garota que aprendia com a primeira lição, na segunda talvez, porém o máximo. Ela era do tipo de garota que dizia apenas uma vez, tudo aquilo que não lhe agradava. Quando tais coisas aconteciam - as desagradáveis - ela deixava fluir, deixava a pele sentir e depois do visto, do sentido, do contato, ela dizia, ela fazia questão de dar abertura ao outro, ela escrevia uma placa enorme de aviso e colocava em sua testa, lágrima e coração, ela dizia ao outro, ''olha, isso foi desagradável, isso me fez tristeza, não quero replay'', e esperava que o outro entendesse, compreendesse e jamais quisesse repetições no que deixava a garota infeliz. Mas as coisas aconteciam, se repetiam, doses pequenas, médias e grandes, do que para ela, era o mesmo problema, independente da dose, afinal, era ela que as tomava. E que porre, que ressaca, que cansaço! Talvez não fosse culpa do outro, ver o que ela via, realmente não. E por essas e outras, ela bebia, bebia todas as doses de ''replays'' não quistos, e fazia questão de sentir os sintomas sozinha. Não era ela que via? Então. Era ela que não repetia o aviso, não era? Isso também a chateava, e em dobro, talvez ela quisesse brigar, espernear e discutir diversas vezes pelo mesmo problema, talvez ela quisesse dividir as doses pesadas dos ''replays'', e depois ter alguém para aturar o porre. Mas ela tinha medo também, medo de por diversas vezes discutir, resolver e re-acontecer, isso era cansativo para ela. Talvez ela mude, talvez ela brigue e esperneie com o outro, intensamente. Talvez ela se canse de guardar os engasgos, e se deixe levar pela emoção. Talvez um dia ela se canse de fingir estar tudo bem. Talvez por medo de que isso tudo a enjoe, os atos repetidos. Mas enjoo maior seria, abstrair e fingir. E por mais medo ainda, de perder o outro, mesmo que ele seja desatento ao ponto de repetir os desagrados. Mas era ele, esse outro que a fazia bem, indescutivelmente e sem comparações com os deslizes, que não eram de caráter, de personalidade... era desatenção. Talvez ela queira deixar o orgulho e ouvir a voz que a diz: ''Vale a pena, beber do mesmo drinque várias vezes, contanto que ele esteja ao seu lado''. Ela estava...

Daia M.

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